A educação brasileira tem melhora tímida e ainda segue abaixo do nível de 1995. Uma subida consistente requer investimento em formação
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MENOS, MENOS Em vez de celebrar a nota baixa, vale mais refletir para avançar
Montagem Bruno Nunes sobre foto Peter Dazeley/Getty Images
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Avançamos. À primeira vista, a conclusão que se extrai dos mais
recentes resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica
(Ideb), relativos a 2009 e divulgados em julho último, é positiva. Em
relação à medição anterior, de 2007, a qualidade do ensino evoluiu em
todos os níveis de ensino. Numa escala que vai até 10, pulamos de 4,2
para 4,6 nos anos iniciais do Ensino Fundamental, de 3,8 para 4 nas
séries finais e de 3,5 para 3,6 no Ensino Médio. Nas três etapas, a
tendência é de alta, numa subida que ocorre desde 2005 e supera as
metas estipuladas para o período. As razões para celebrar param por aí.
Os mesmos números deixam claro que a melhora é muito tímida. A
constatação vale para os dois indicadores que compõem o Ideb. No
primeiro deles, a taxa de fluxo escolar (que representa o número de
alunos que passaram de ano e se matricularam na série seguinte), a
melhoria em relação à última medição não passou de 3,5%. E no segundo,
a Prova Brasil, a subida não ultrapassou os 7,4%. Isso, claro, no caso
em que os índices melhoraram: em 1.146 cidades avaliadas (21% do
total), os resultados do Ideb pioraram em relação a 2007.
Nesse ritmo, ainda estamos a anos-luz da nota 6, um padrão definido
como aceitável para os membros da Organização para Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), o clube das 30 nações mais
desenvolvidas do planeta. Pelo projeto do Ministério da Educação (MEC),
que sabe que mudanças profundas são lentas, só chegaremos a esse nível
no longínquo ano de 2021. É triste notar que, por enquanto, apenas 6,7%
das escolas públicas de séries iniciais do Ensino Fundamental e 0,3%
das de séries finais já têm qualidade de primeiro mundo.
O dado mais preocupante aparece quando voltamos um pouco mais ao
passado para analisar quanto os alunos aprendiam no passado e quanto
aprendem hoje. Comparando os resultados de dois exames nacionais - a
Prova Brasil e seu antecessor, o Sistema Nacional de Avaliação da
Educação Básica (Saeb) -, o que se percebe é que cinco das seis médias
de Matemática e Língua Portuguesa estão hoje em patamar inferior às de
1995
(como mostram os gráficos abaixo).
É verdade que uma comparação exata não é possível porque a Prova Brasil
é praticamente universal e envolve 40 mil escolas, enquanto o Saeb
trabalha com uma amostra menor, de 10 mil escolas. Mas a escala de
pontuação e o foco são semelhantes (leitura em Língua Portuguesa e
resolução de problemas em Matemática), o que dá força a uma constatação
incômoda: no que diz respeito ao aprendizado, ainda estamos piores do
que 15 anos atrás.
Sorriso amarelo
Avaliações nacionais indicam que o
aprendizado de Língua Portuguesa e Matemática ainda não retornou ao
nível do início das medições, há 15 anos
*Exceto para o 3º ano do ensino médio, que segue sendo avaliado pelo SAEB.
Fonte: INEP
Ilustração: Bruno Nunes
Todos os especialistas concordam que a queda na virada do milênio se
explica pelo aumento da oferta de ensino nos anos 1990. De fato, apenas
em 1999 chegamos ao patamar de 97% das crianças de 7 a 14 anos na
escola. Mas lá se vão 11 anos e os filhos de famílias pobres que foram
na época incluídos não podem ser responsabilizados pelos baixos
índices... É hora de virar a página. Uma boa providência é investigar o
que nossos alunos sabem e, principalmente, o que não sabem e precisam
saber.
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